Antígona - A Resistência está no Sangue

Da clássica tragédia grega de Sófocles vem a inspiração do representante do Canadá no Oscar 2020. Antígona - A Resistência está no Sangue é uma releitura moderna, pungente e protagonizada por uma jovem atriz que é uma força bruta: Nahéma Ricci – guarde este nome. Filha de Édipo na peça encenada por volta de 442 AC., a Antígona de hoje é argelina, perdeu os pais aos 3 anos de idade e sua avó (Rachida Oussaada) saiu fugida com ela, a irmã e dois irmãos para Montreal, na província canadense de Quebec.

A roteirista e diretora Sophie Deraspe preserva os nomes originais dos irmãos, Ismène (Nour Belkhiria), Étéocle (Hakim Brahimi) e Polynice (Rawad El-Zein), e também do amor de Antígona, seu colega de escola Hémon (Antoine DesRochers). Melhor aluna da classe, já fluente em francês e no último ano do ensino médio, ela sofre um novo baque quando outra tragédia assola a família. O espectador testemunha então sua transformação em uma Joana d’Arc do século 21. Para honrar um irmão e tentar salvar o outro da prisão e da inevitável deportação, Antígona contrapõe a lei dos homens a seus valores morais e toma uma atitude radical.

O grito de inconformismo provoca sua detenção e invade as redes sociais em ritmo de hip hop. O amado Hemón sai em sua defesa e usa a arte do grafite para torná-la um ícone. Uma montagem esperta, com estilo documental, faz pipocar na tela manifestações de apoiadores e detratores, com ecos inclusive no movimento #blacklivesmather. Há algo de V de Vingança nessa expressão de revolta que aos poucos se torna uníssona.

O sacrifício de Antígona pela família se desenrola em uma batalha judicial. Embora o período na casa de detenção empaque um pouco a narrativa, o terceiro ato ganha uma força descomunal. A diminuta Antígona se agiganta e vira mulher diante da câmera dessa diretora que conduz com pulso firme o arco dramático de sua heroína. Antígona consegue ser um filme duro, terno, trágico, romântico e lírico. De tirar o fôlego.

Ficha Técnica

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