American Son

Kendra (Kerry Washington, a série Pequenos Incêndios por Toda Parte) mal consegue disfarçar a angústia de não ter nenhuma informação consistente sobre o paradeiro de seu filho Jamal, de 18 anos. É madrugada, chove torrencialmente e ela está na delegacia aguardando notícias do policial de plantão, o oficial novato Larkin (Jeremy Jordan, da série Supergirl). A atitude preconceituosa e desconfiada dele quanto aos apelos de Kendra é indisfarçável.

Então chega o pai de Jamal e ex-marido de Kendra, Scott (Steven Pasquale, da série The Good Wife). Agente irlandês do FBI, branco de olhos claros, ele imediatamente troca figurinhas com Larkin. Daí sai a revelação de que o carro de Jamal e seus três ocupantes foram detidos pela polícia, mas ainda não há maiores detalhes. Enquanto esperam, os dois lavam a roupa suja do casamento, da relação com o filho e de uma conflituosa condição familiar.

Adaptação da peça homônima de grande sucesso na Broadway, American Son está indicada ao Emmy 2020 de melhor filme para a TV, e traz para a telinha o mesmo elenco e diretor dos palcos. É praticamente teatro filmado, embora não pareça ter sido essa a intenção do cineasta Kenny Leon nem da estrela e produtora executiva de ambos, Kerry Washington. Não fosse o inquestionável apelo dramático da história e a abordagem corajosa e impactante não só do racismo, mas também de qualquer forma de preconceito, seria mais difícil perdoar as incoerências do roteiro. A direção também falha em adequar o tom e o tempo das performances e dos diálogos à linguagem fílmica, muito mais delicada e sutil.

Ainda assim, o terceiro ato guarda surpresas, principalmente quando entra em cena o policial John Stokes (Eugene Lee), afro-americano como Kendra, responsável pelo caso e de postura altiva e realista. Stokes adiciona novas camadas ao que já era um retrato angustiante da intolerância enraizada da sociedade norte-americana (só dela?), cujo epílogo espelha de maneira drástica e dolorosa.

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