Air: A História por Trás do Logo

Em entrevista recente a uma rede de rádio da Espanha, Ben Affleck explicou, em um espanhol muito elogiado nas redes sociais, por que o rosto do intérprete de Michael Jordan não aparece em Air: A História por Trás do Logo. “Ele é tão grande, tão importante, tão magnífico que não há nenhum ator no mundo que a audiência possa ver e dizer 'Olhe, é o Michael Jordan’.” O cineasta contou também que a lenda do basquete, e um dos maiores atletas de todos os tempos, lhe fez um pedido certeiro: ter Viola Davis no papel de sua mãe, Deloris Jordan.

A importância da atriz nessa comédia dramática digna de prêmios é monumental. Só vendo. Dito isso, as atenções voltam-se para Ben Affleck. Se o talento como ator sempre esbarrou no adjetivo canastrão, sua trajetória como roteirista, produtor e diretor está a cada dia mais consolidada. O Oscar de melhor filme para Argo (2012) foi o ápice, mas a memória dos fãs tende a voltar para 1998, quando o jovem Affleck subiu ao palco com seu amigo de vida e parceiro de cena Matt Damon, para receber a estatueta de roteiro original por Gênio Indomável, de Gus Van Sant.

Pois a sintonia da dupla é um dos trunfos de Air, a história por trás do logo Air Jordan, até hoje uma das linhas de produtos mais populares da Nike. Um tênis modelo Air Jordan 1 Retro High na loja virtual da Nike, por exemplo, custa R$ 1599,99. Naquele ano de 1984, porém, a Nike estava em baixa, restrita aos tênis de corrida e desprezada pelo mundo do atletismo. Na NBA, reinavam Adidas e Converse. Nesse cenário desanimador, Damon aparece como Sonny Vaccaro, o executivo de marketing que convence o cofundador e CEO da Nike, Phil Knight, personagem de Affleck, a bancar uma aposta considerada perdida: patrocinar o promissor jogador universitário Michael Jordan.

As artimanhas de Vaccaro para ultrapassar todas as barreiras possíveis até conseguir se reunir com o jogador foi parte de um extenuante trabalho de equipe. Esse team work não só dá gás ao enredo como coloca em cena uma trupe classe A de coadjuvantes. Do diretor de marketing Rob Strasser (Jason Bateman), passando pelo executivo de marcas Howard White (Chris Tucker) até o designer Peter Moore (Matthew Maher), que deu forma ao primeiro Air Jordan. A dinâmica de criação do tênis rende cenas tão tensas quanto divertidas. Eles sabiam que era tudo ou nada, diga-se, olho da rua.

Affleck e Damon deram um bom tapa no roteiro do estreante Alex Convery, que emociona pelo entendimento de que foi o tino humano de Vacarro, e não o mercadológico, que quebrou a resistência de Jordan e sua família em relação à Nike. Os diálogos entre ele e Deloris chegam a arrepiar. Air vai muito além dos bastidores da origem de um produto. É uma obra simbólica, de peso político, humanitário e cultural. Porque os inéditos termos do contrato e o fenômeno da marca quebraram tabus e inspiraram a comunidade negra a sonhar ir ao infinito e além, com o Air Jordan nos pés e Michael Jordan no coração.

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