A Sombra do Pai

Confortável no seu gênero de preferência, a roteirista e diretora Gabriela Amaral Almeida provoca desconforto com o terror e o suspense bem desenhado que o acompanha quando executado com conhecimento de causa. Depois da elogiada estreia com O Animal Cordial, a cineasta ameniza a violência explícita e amplifica a implícita, subjetiva, subjacente aos personagens e à narrativa de A Sombra do Pai.

As referências à escola e ao tema clássico do gênero ao qual a produção se filia estão nas cenas de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), de Dario Argento, e O Cemitério Maldito (1989), de Mary Lambert. Quem as vê, embrulhada em uma manta, é Dalva (Nina Medeiros), garotinha traumatizada com a morte precoce da mãe e o distanciamento cada vez maior de seu pai, Jorge (Julio Machado, de Joaquim), pedreiro e arrimo de família mergulhado na dor da perda.

Quando a tia (Luciana Paes) que cuidava de Dalva se casa, a solidão e o silêncio tomam conta da vida e do lar de pai e filha. A aparente sensibilidade da garota para conjurar espíritos se intensifica, e Jorge perde seu melhor amigo num acidente na construção em que trabalha. O tom do filme torna-se ainda mais soturno, sobrenatural. A iluminação desenha sombras e os objetos de cena se destacam, como respostas à angústia dos personagens que parecem ver apenas uma saída para a sua tristeza asfixiada.

Com coprodução da RT Features, de Rodrigo Teixeira (Me Chame pelo Seu Nome), A Sombra do Pai é tanto um exercício estilístico como uma invocação do terror para tratar de temas clássicos, como a morte e a rejeição dela, mas sobretudo uma alegoria do endurecimento a que precisam se submeter as pessoas – adultos ou crianças - que, obrigadas a lutar pela sobrevivência a qualquer preço, não podem se dar ao luxo de viver o tempo do luto ou mesmo das suas emoções.

Veja abaixo a entrevista com a diretora Gabriela Amaral Almeida e o ator Julio Machado. 

Ficha Técnica

Assista Agora!