A Resistência de Inga

Na friorenta e insular Islândia, a maioria da população de pouco mais de 350 mil habitantes vive na capital Reiquiavique. Mas é a minoria que cultiva as fazendas do país quem garante a economia nacional. O novo filme do diretor islandês Grímur Hákonarson, vencedor da Mostra Um Certo Olhar em Cannes 2015 com A Ovelha Negra, adota um tom menos cômico, mas ainda crítico, dessa vez sobre a gestão de uma cooperativa de agricultores.

A fazenda e sua produção de leite e carne bovina eram o maior orgulho de Reynir, um dos membros mais queridos da cooperativa local. Mas a exploração da atual administração o deixou com grandes dívidas e o pressionou a dedurar vizinhos que ousavam comprar seus suprimentos ou vender seus produtos fora da cooperativa. O desgosto leva-o suicídio, deixando Inga (Arndís Hrönn Egilsdóttir) viúva, endividada e sozinha com todo o trabalho da fazenda.

Inga nos é apresentada na lida, fazendo sozinha o parto de um bezerro. Estão lá seu vigor, sua dedicação e seu amor pelo trabalho. O baque do luto repentino a paralisa, até ela saber que foram as falcatruas da cooperativa que a deixaram viúva. Sozinha mais uma vez, Inga vai enfrentar a monopólio arcaico com ferramentas do “futuro”, como denúncias pelo Facebook, que repercutem e se espalham pela mídia local, inclusive a televisão.

A Resistência de Inga retrata o modo de vida simples e rústico da protagonista e de seus colegas fazendeiros com imagens panorâmicas das planícies inóspitas e da cidadela por onde os personagens se movem, diminutos. No aconchego de seus lares e nas reuniões, no entanto, eles assumem o protagonismo, em enquadramentos cuidadosamente desenhados, quase sempre com a câmera parada, deixando à mostra as suas emoções. Contidas, mas palpáveis.

Inga clama pela justiça, pela inovação, e é comovente ver o quanto ela rejuvenesce a cada pequena vitória de sua resistência. Surpreende a retidão com a qual o conflito político e social se desenvolve, num ambiente de defesa de ideias e fatos, uma lição de civilidade e democracia oportuna para o controverso momento atual do nosso país tropical.

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