A Química que Há Entre Nós

Quem assiste a filmes até o final dos créditos, como eu, provavelmente vai se surpreender, como eu, ao confirmar que A Química que Há Entre Nós foi rodado com filme Kodak 35mm. Embora sutil, a diferença de textura da fotografia é notável, e esse talvez seja um dos elementos que dá a esse drama romântico adolescente, talvez mais adulto do que o usual, uma aura própria e uma temporalidade fugidia que só lhe fazem bem.

Na história de amor entre Henry (Austin Abrams, série Euphoria) e Grace (Lili Reinhart, As Golpistas) não há nada muito peculiar. Os dois têm 17 anos, estão no último ano do ensino médio, gostam de literatura e se conhecem na redação do jornal da escola, competindo para a vaga de editor(a). Henry quer ser escritor, mas lamenta não ter muito assunto sobre o que escrever com sua vida “boa”, os pais casados e felizes, comida na mesa e amigos fiéis ao seu lado. Grace é a nova aluna linda, loira e lacônica, que anda com a ajuda de uma bengala e não faz questão nenhuma de interagir com os colegas.

Os dois são escolhidos para coeditar o jornal, e o inevitável romance acontece. Com algumas pálidas interferências do crush gay da melhor amiga de Henry e da tradução cerebral para a instabilidade hormonal típica dos teens, fornecida pela irmã médica dele, o filme passeia pelo encontro de Henry e Grace e as revelações sombrias sobre o passado recente dela. Entre um poema de Pablo Neruda e um desfecho em aberto, Henry vivencia o amor e o limbo entre a infância e a vida adulta, que Grace chamou de adolescência. Ele agora tem sobre o que escrever.

A adaptação do diretor Richard Tanne (Michelle e Obama) para o best-seller de Krystal Sutherland tropeça na construção dos protagonistas, mas seus jovens atores amenizam a inconsistência com um brilho particular. Austin Abrams, aliás, interpretou o amigo divertido do personagem principal de Cidades de Papel, baseado no livro de John Green, de A Culpa é das Estrelas, e A Química que Há Entre Nós afina-se com essa linhagem literária para jovens adultos. Tanto, que o filme trata de temas espinhosos como depressão e suicídio. Se nem tudo são flores nessa fase tumultuada da vida, o diretor Tanne reveste seus espinhos de uma delicadeza dramática e cênica comovente, embalada por uma trilha sonora tão suave como a textura das suas imagens. 

Ficha Técnica

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