A Camareira

Do 21º andar de um hotel de luxo da capital mexicana, a diretora estreante Lila Avilés realizou uma pequena obra-prima, um dos filmes mais políticos da temporada, selecionado para representar o país no Oscar 2020. Já levou o prêmio Ariel – o Oscar do cinema mexicano – de melhor estreia na direção, e outro troféu na mesma categoria, no prestigiado Festival de Havana.

A concepção da cineasta e coautora do roteiro (irretocável) não faz concessão alguma ao cinema-entretenimento. Desde o ritmo lento, cadenciado, cena a cena, a construção cirúrgica da protagonista e dos emblemáticos coadjuvantes, até o epílogo desalentador, embora tristemente coerente, Lila lança mão apenas dos recursos da linguagem que trazem sentido para o filme. Ela os reveste de uma beleza discreta e relevância atroz, e os articula com o domínio de uma veterana desde a surpreendente cena de abertura.

A Camareira é a jovem Eve (Gabriela Cartol), mulher tímida, sempre de olhos baixos e poucas palavras, que vê e vive o mundo através das imponentes janelas de vidro dos quartos que organiza e limpa incansavelmente. De sua vida, sabemos que tem um filho e alguém que cuida dele, pelos telefonemas que ela faz do hotel para casa, onde o banho ainda é de canequinha. Motivada pela promessa de promoção para limpar o andar mais nobre do hotel, o 24º, Eve faz um número absurdo de horas extras e se matricula nas aulas oferecidas para os funcionários. Dentre eles, a dissimulada e intrometida Minitoy (Teresa Sánchez).

É do registro cotidiano do luxo e desperdício da vida dos hóspedes em oposição à austeridade serviçal da vida de Eve, acentuada pela exploradora gestão do hotel, que o filme extrai sua crítica aguda, dirigida à histórica injustiça social e econômica do país e à dificuldade extra que as mulheres encontram nesse cenário desolador. Eve faz uma grana por fora ao cuidar do bebê de uma hóspede maluquinha para ela poder tomar banho, quando o trabalho lhe rouba da convivência com o próprio filho. É assim A Camareira, preciso, estética e conceitualmente, na sua proposta de mimetizar no hotel o simulacro de uma sociedade encantada, ainda, com seus podres poderes. Custe o que custar.

Ficha Técnica

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