Quinteto Irreverente

Para inspirar os veteranos a manter o astral elevado nesse período triste e tenso de cononavírus, reunimos um quinteto de filmes com astros e estrelas da terceira idade, e com a corda toda!

Sir Ian McKellen divide a cena com a Dama Helen Mirren no thriller A Grande Mentira. Outras duas Damas em ação são Judi Dench, que dá vida a uma controversa figura histórica em A Espiã Vermelha, e a sempre impagável Maggie Smith, a melhor coisa da versão para o cinema de Downton Abbey.

Já em Acertando o Passo é a vez de Imelda Saunton e Celia Imrie arrancarem risos e lágrimas como duas irmãs bem diferentes. Para fechar, o show fica por conta de Michael Douglas e Alan Arkin na série The Kominsky Method, ótima para maratonar.

A Grande Mentira/The Good Liar

É a primeira vez que Dama Helen Mirren e Sir Ian McKellen (ambos condecorados pela coroa britânica) se reúnem no cinema. E esse não é mais um filme a abordar as agruras da terceira idade. Os veteranos estão aqui para protagonizar um thriller enigmático, em clima de mistério e sedução. 

A adaptação do best-seller de Nicholas Searle tem classe, embora a trama seja mirabolante além da conta. Roy (McKellen) é um golpista, e com a ajuda de um parceiro (Jim Carter, Downton Abbey) passa a perna em empresários e mulheres carentes. Quando conhece a viúva Betty (Helen), está certo de que achou uma presa fácil. 

Betty tem um neto que fica de orelha em pé quando Roy muda-se para a casa da avó. A ideia do picareta é que eles invistam juntos todas as suas economias. Há uma certa artificialidade na rapidez com que eles se aproximam, assim como na facilidade com que ela se deixa envolver, porque Betty não parece ser uma mulher ingênua, apenas solitária.

Quando as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar, os personagens ganham complexidade ao ter seus passados revelados. É preciso dar um desconto para a história irregular e simplesmente degustar o encontro inédito de dois monstros sagrados da atuação.

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A Espiã Vermelha/Red Joan

A inglesa Melita Norwood tinha 87 anos em 1999, quando admitiu publicamente ter sido espiã da KGB por cerca de quatro décadas. Os documentos que entregou aos russos foram cruciais para a construção da bomba atômica pela então União Soviética. A convicção de que prestava um favor à paz mundial, ao descentralizar o poderio nuclear, é uma das questões a se debater na produção estrelada pela Dama Judi Dench.

A Espiã Vermelha adapta o romance histórico de Jennie Rooney e a  veterana atriz serve como um elo com o passado. Com o nome de Joan Stanley, a personagem é interpretada na juventude por Sophie Cookson (Kingsman: O Círculo Dourado). A história começa em 1938, quando Joan era caloura de física na Universidade de Cambridge. É ali que se encanta pelo alemão e comunista Leo Galich (Tom Hughes), e começa a participar das reuniões do partido. Já formada, Joan vai trabalhar em um laboratório, como assistente do professor Max Davis (Stephen Campbell Moore), líder de um projeto secreto – a bomba atômica.

A Espiã Vermelha tem ritmo ágil e alterna o interrogatório da octogenária e viúva Joan com longos flashbacks, que remontam suas ações na espionagem e na seara amorosa. É mais um curioso capítulo da Segunda Guerra, e pensar que uma mulher ajudou a definir a nova ordem nuclear, que deu o tom à posterior Guerra Fria, torna a realidade ainda mais inusitada.

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Downton Abbey

Não assistiu a nenhuma das seis temporadas da premiada série Downton Abbey, criada por Julian Fellowes em 2010? Não tem problema. A versão para o cinema sustenta-se sozinha. O próprio Fellowes escreveu o roteiro, que se passa em 1927, e cuidou de apresentar os icônicos personagens, além de abordar com leveza o passado de alguns deles.

A trama é muito simples: a convivência entre a aristocrata família Crawley e seus criados na fictícia propriedade rural Downton Abbey. Esse cenário luxuoso será o centro de um evento histórico: uma recepção para a família real. O Rei George 5º e a rainha Mary estarão na região para visitar a filha, e decidem fazer uma parada na residência dos Crawley.

A câmera passeia pelo castelo para acompanhar o rebuliço dos preparativos e vai iluminando os personagens, sem o compromisso de abarcar os 14 anos da trajetória do clã no decorrer da série, que começa em 1912. O conflito está na chegada do staff real, que toma o controle da organização do castelo e frustra o desejo do pessoal de Downton Abbey de servir aos monarcas. 

Temas como ascensão social, antimonarquismo e homossexualismo são abordados e funcionam como motor narrativo, mas não há engajamento. Downton Abbey é um convite irresistível para quem quer escapar um pouquinho do mundo real e relaxar em meio ao glamoroso universo dos Crawley. E ainda tem a octogenária Maggie Smith absoluta como a condessa Violet, que destila o humor cínico e irônico sem piedade, nas falas mais espirituosas.

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Acertando o Passo/Finding Your Feet

Depois do delicado Ruth & Alex, com Morgan Freeman e Diane Keaton como um casal nova-iorquino envolto em uma questão imobiliária, o cineasta Richard Loncraine volta a privilegiar a terceira idade, desta vez com elenco britânico.

Imelda Staunton é Sandra, uma esnobe cuja vida vira de ponta cabeça quando se vê traída após 40 anos de casamento. Ela vai parar na casa da irmã pobretona, Bif (Celia Imrie), uma pessoa simples e cheia de alegria, que lhe apresenta seu grupinho da aula de dança.

Singela e previsível, a narrativa explora a resistência da protagonista em se enturmar, suas rusgas com um dos amigos da irmã e, claro, a redescoberta de prazeres antigos, como a dança, que ela abandonou ao se casar. É admirável como um bom elenco torna até os clichês agradáveis. Destaque para Timothy Spall (Sr. Turner), surpreendente em um papel romântico. 

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The Kominsky Method

POR FÁTIMA GIGLIOTTI

O mundo do entretenimento sempre fica mais interessante quando satiriza, mesmo que sutilmente, a si próprio. Essa é uma das razões para a primeira temporada de The Kominsky Method ter recebido os Globos de Ouro de melhor série - comédia ou musical -, ator (Michael Douglas), além da indicação para coadjuvante (Alan Arkin). A segunda temporada chegou rapidinho, mas o criador Chuck Lorre (The Big Band Theory, Two and a Half Men) ainda não bateu o martelo do terceiro ano.  

Sandy (Douglas) é um veterano e venerado ator e diretor de cinema, dono de seu próprio método e de sua própria escola de interpretação, mas está há anos sem trabalho na telona ou na telinha. Norman (Arkin), seu melhor amigo e agente, é dono de uma grande agência de talentos. Depois de perder a esposa e o casamento de 50 anos para o câncer, Norman fica sem rumo, e é Sandy o encarregado de lhe dar conforto e companhia.

A dupla se vê em meio a questões de família, de luto, de dinheiro, de amor, de solidão, de memória e até de próstata, tudo tratado com um cinismo ácido no constante bate-boca dos amigos, mas sem perder a ternura jamais. Ao redor deles, filhas e alunos levam frescor e nonsense para as agruras da maturidade - dos protagonistas e da também velha, centenária e sacudida Hollywood.

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