O Anjo

Tudo o que Carlitos quer é ser livre, nada mais. Liberdade, para ele, é entrar na casa das pessoas e roubar. Simples assim. Não por maldade ou cobiça, mas pela emoção, pela aventura, pelo ímpeto inconsequente que movimenta esse adolescente de cabelos louros e carinha de anjo. Carlitos é Carlos Robledo Puch, um dos mais famosos criminosos da Argentina, encarcerado há mais de 46 anos. Com direção de Luis Ortega e produção de ninguém menos que Pedro Almodóvar, O Anjo conta essa história com um gingado todo especial, uma sensualidade pulsante e ritmo frenético.

Interpretado pelo (excelente) novato Lorenzo Ferro, Carlitos encontra no colega Ramon (Chino Darín, Odisseia dos Tontos) o parceiro ideal de gatunagem. Há uma pulsante energia erótica entre essa dupla, e ela esquenta ainda mais quando Carlitos é apresentado aos pais do amigo (Mercedes Morán e Daniel Fanego), um casal de última categoria. Esse clã da pesada introduz o jovem às armas de fogo. Adeus inocência.

A roda viva de roubos começa a tomar vulto alarmante a cada apertada no gatilho, e Carlitos o faz com uma naturalidade assustadora até para seus tutores no mundo do crime. A narrativa é vertiginosa e o diretor Ortega não quer saber de lição de moral. Sua câmera não julga, apenas registra a crescente periculosidade dos jovens bandidos.

A Argentina dos anos 70 ganha uma reconstituição magnífica, de figurinos e cenários à trilha sonora, com o melhor da “jovem guarda” dos hermanos. Ao fundo paira a ditadura, com a presença ostensiva de militares. Em participação de luxo, Cecilia Roth (estrela de Almodóvar em Tudo Sobre Minha Mãe) interpreta a mãe que não quer enxergar a face obscura de seu anjinho. Não foi à toa, porém, que ele ganhou a alcunha de “Anjo da Morte”.

Ficha Técnica

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