Mostra SP: Desenterrar

Premiado na Mostra Panorama em Berlim 2020, Desenterrar é um western contemporâneo e engajado com a questão ambiental. Mas é também a tocante história de reencontro entre pai e filho. A força do drama familiar sustenta o gênero e a mensagem ecológica. O diretor e corroteirista grego Georgis Grigorakis comanda seu primeiro longa-metragem longe das famosas águas cristalinas. Seu protagonista, Nikitas (Vangelis Mourikis), é um fazendeiro solitário que vive em uma área montanhosa e florestal ao norte do país.

Desenterrar começa com uma avalanche de terra provocada por uma tempestade. Nikitas tem sua casa tomada pela lama e aponta o dedo ao culpado: a empresa mineradora que tem desmatado a região há décadas. Para alguns, Nikitas é persona non grata, antiprogresso. Para outros, é o último bastião, o cavaleiro solitário que defende como pode a natureza. Para seu filho Johnny (Argyris Pandazaras, Pari), porém, ele é um estranho. Sua mãe abandonou Nikitas e levou seu bebê para viver em Creta. Pai e filho nunca mais se viram, até agora.

A morte dela coloca-os em rota de colisão. Jonnhy tem seus 30 anos e se tornou piloto de motocross. Como um legítimo forasteiro, aparece para exigir metade do valor da fazenda, que a mãe lhe deixou de herança. De um lado, Nikitas tem a pressão do rebento, do outro, o assédio e as ameaças do representante da mineradora para que venda as terras. Entre todos está a natureza exuberante, que exerce seu fascínio e cerca pai e filho com seu poder regenerador.  

O simbolismo do western está todo na tela, assim como o discurso pró-sustentabilidade encontra seu lugar em diálogos descomplicados. Desenterrar é despretensioso. O diretor não se arrisca e segue a narrativa convencional, mas desvia dos clichês de “lavação de roupa suja” familiar. Nem sempre é preciso escavar o passado para manter a terra firme no presente. O final é tenso, mas muito bonito.

Ficha Técnica

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