Anna

Até onde o artista vai pela arte? Qual o limite entre desejo e ética? Em Anna, o cineasta Heitor Dhalia (O Cheiro do Ralo) invade o palco com sua câmera para examinar a relação abusiva entre diretor e atriz, durante a montagem de Hamlet, de Shakespeare. O astro argentino Boy Olmi e a atriz Bela Leindecker interpretam Arthur e Anna. Há uma década, ele fracassou em sua primeira tentativa de adaptar a peça, e agora está obcecado pelo projeto. Ela está determinada a conquistar o papel de Ofélia e despontar para o estrelato. 

Dhalia cria um jogo cênico incômodo e fascinante, em que os egos se encontram, se chocam e se repelem em uma dança sensual e violenta, criativa e destruidora. No posto de rei do palco, Arthur oprime e humilha não só Anna, mas todo o elenco, com um método sádico de arrancar o melhor de cada um. Mas com Anna ele avança a linha, por luxúria ou pela arte - melhor, pelos dois. Ela, por sua vez, se vê ameaçada e instigada pelo poder de sedução que também exerce sobre Arthur.

A linguagem teatral vai além dos ensaios. Todos ali parecem viver e sorver o teatro onde estiverem, em casa, no bar, em uma festa. Sim, Anna é teatro filmado. Mas a linguagem cinematográfica adentra esse universo sem pedir licença. Em seu longa anterior, Tungstênio (2018), Dhalia faz tomadas virtuosas na adaptação dos quadrinhos de Marcello Quintanilha. Aqui, a câmera ora observa ao longe, como espectadora, ora percorre e se enrosca nos personagens como se fosse um deles. Um experimentalismo introspectivo e provocante. 

A narrativa nem sempre flui bem na fusão das linguagens. Anna é um desafio tanto para toda a equipe de produção quanto para o público. Alguns vão embarcar nessa jornada por um processo criativo doente e pulsante, outros não. Mas a questão das relações abusivas em ambientes de trabalho, de toda sorte e gênero, é urgente e atemporal.

Confira a seguir nosso papo com o cineasta Heitor Dhalia. 

Ficha Técnica

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