Amor Para Recomeçar

Quem se lembra de Julia Roberts no sucesso Comer Rezar Amar? Em um curto período de tempo, sua personagem enfrenta um divórcio e uma separação. O que ela faz? Sai pelo mundo atrás de si mesma, com paradas na Itália, Índia e Indonésia. Já para Ola, a protagonista da saborosa série egípcia Amor para Recomeçar, o turismo de autoajuda não é opção. Às vésperas de completar 40 anos, casada há 13 e com um casal de filhos, ela perde o chão quando o marido anuncia que vai embora. Em seis episódios, a estreia da Netflix revela um Egito livre dos estereótipos do mundo árabe que abundam no cinema e na TV ocidentais. A jornada de superação de Ola é pé no chão, mas muito bem-humorada.

Interpretada pela linda e carismática Hend Sabry, Ola quebra a quarta parede. Com comentários e olhares sugestivos para a câmera, ela torna o espectador cúmplice e confidente dessa fase revolta. É a elite egípcia que está sob os holofotes, em casas modernas e a bordo de carrões. Burcas são exceção. As mulheres saem com os cabelos vistosos, maquiladas e vestidas na última moda. Essa é a paisagem externa, mas não é por acaso que o Egito já esteve no topo de listas dos lugares mais perigosos do mundo para as mulheres. O patriarcado opressor não está latente. Sutil é a abordagem, leve como as antigas “novelas da seis”.  

Hisham (Hany Adel), o marido, é um psiquiatra bem-sucedido e dedicado à família. Não tem nada de vilão, mas está na idade do lobo. Às vezes age como um menino mimado porque assim foi criado pela mãe superprotetora. O machismo é tão enraizado que a mãe de Ola é a primeira a repreendê-la por ter sido abandonada, e começa a traçar estratégias de reconquista. A própria Ola sente-se culpada pelo fim do casamento. O choque faz com que busque o apoio da melhor amiga, Nesrine (Nada Moussa), mulher solteira e independente da qual se afastara por ser considerada má companhia pelo marido e a mãe. Farmacêutica de formação, Ola decide transformar em produto o creme dermatológico caseiro que formulou para a filha. Um belo corte no cabelo e até uma tatuagem estão entre os primeiros passos da reconciliação consigo mesma.

A retomada da vida profissional parece conto de fada, com coachings, sócios, marqueteiros e influencers que brotam do nada para ajudá-la. Mas a verdade é que o empreendedorismo não facilita a já atribulada rotina da protagonista. O vício do filho em videogame, o rompimento da filha com o pai, a falta de apoio da mãe, a rejeição da ex-sogra. Não falta complicação. A Lola mulher pena para encontrar tempo para o amor, e a experiência com aplicativos de relacionamento reserva alguns sustos. Com descontração e espontaneidade, personagens bem desenhados e situações inusitadas, Amor Para Recomeçar é um papo reto de Ola com a mulher contemporânea de qualquer canto do mundo. Uma mensagem de sororidade sem lacração.

Ficha Técnica

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