A Sociedade da Neve

Indicado ao Oscar de filme internacional pela Espanha, A Sociedade da Neve retoma um histórico desastre aéreo ocorrido há 51 anos. Sobreviventes dos Andes (1977) e Vivos (1993) revisitaram a tragédia, mas a produção da Netflix traz uma nova perspectiva. O roteiro é inspirado no romance homônimo de Pablo Vierci, um dos sobreviventes. O que torna a experiência avassaladora é o ponto de vista coletivo, porque o autor entremeia suas memórias a relatos de outros que escaparam com vida. Essa associação, a união de forças que o título antecipa, é tanto a engrenagem do resgate quanto da comoção que provoca no espectador.

Começa com uma apresentação dos passageiros que embarcaram no avião fretado da Força Aérea do Uruguai, no fatídico 13 de outubro de 1972, com destino ao Chile. A atenção recai sobre os jovens jogadores de um time de rúgbi amador. Entre as 45 pessoas a bordo, 29 sobreviveram ao impacto contra a Cordilheira dos Andes, porém apenas 16 resistiram aos 72 dias de espera pelo resgate. A Sociedade da Neve insere o público na imensidão branca, com temperaturas de até 30 graus negativos, e o aproxima dessa brava gente que suportou o insuportável. O tão comentado canibalismo dos mortos, último recurso de alimentação, é abordado com respeito. A morte jamais é banalizada.

O diretor e roteirista espanhol J.A. Bayona arrancou lágrimas copiosas com O Impossível (2012). Também baseado em história real, o filme narra o drama de uma família separada pelo tsunami que atingiu a Tailândia e outros países asiáticos em 2004. Da água para o ar, o cineasta volta a fazer excelente uso de efeitos especiais e recria a queda da aeronave com realismo de dar nos nervos. Em solo, o cenário de início se restringe ao interior e arredores da fuselagem que sobra após a colisão.

Os laços se formam durante uma estranha calmaria, movida pela esperança de rápido salvamento. A trama passa por um compasso de espera quase enfadonho, até que notícias externas e a fúria da natureza demandam ações radicais. A dramaticidade aumenta na medida em que os personagens se conectam com o espectador. Quem não conhece os detalhes do desfecho vai vivenciar momentos de muita tensão. Os desafios enfrentados pela dupla que se aventurou pelas montanhas nevadas atrás de ajuda são impressionantes.

A Netflix liberou um vídeo de bastidores (veja aqui), no qual o diretor, sobreviventes e familiares de vítimas se pronunciam sobre A Sociedade da Neve. “Nos faz voltar um pouquinho para junto daqueles que se foram”, diz o sobrevivente Roberto Canessa. “Nunca ninguém me falou sobre minha mãe e o filme me ajudou a lhe dar forma”, revela Male Methol, que ficou órfã aos 3 anos. “É um relato de apoio, de espírito de camaradagem”, conclui Canessa. Comovente demais.

Ficha Técnica

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