A Diplomata

Katherine Wyler arruma as malas, prestes a assumir a embaixada americana em Cabul, no Afeganistão, quando é chamada às pressas pela Casa Branca. Um porta-aviões britânico sofreu um atentado na costa do Irã, que matou ao menos 25 oficiais da Marinha Real. O presidente norte-americano acha que o recado é para ele e muda a rota. Kate assumirá a embaixada em Londres, imediatamente. É na adrenalina o start de A Diplomata, série da Netflix que já tem a segunda temporada confirmada.

Estrela da série juvenil Feliticy nos anos 90, e indicada ao Globo de Ouro e ao Primetime Emmy pela espiã russa da série The Americans (2013-2018), Keri Russell adiciona a diplomata à lista de personagens suas que ficarão para a posteridade. Sedutoramente idiossincrática, Kate está sempre com os cabelos desgrenhados, pedindo um shampoo, usa um pingo de maquiagem e é adepta do terninho. O visual nada glamuroso será um dos muitos desafios da equipe de assistentes que a espera no reino de Elizabeth II.

A showrunner Deborah Cahn virou expert nos bastidores da política como produtora e roteirista da série The West Wing (1999-2006). É verdade, porém, que não é simples acompanhar em detalhes os extensos diálogos sobre relações internacionais. Bem melhores são as conversas – e discussões – entre Kate e o marido, Hal Wyler, interpretado por um inspiradíssimo Rufus Sewell (Meu Pai). A relação mais que estremecida do casal, que leva a política para a cama, é um dos trunfos de uma trama pautada pelo jogo de interesses.

Ex-embaixador e diplomata experiente, Hal circula livre pelos corredores do poder e não se contenta com o papel de “esposa”. Tem planos maiores para Kate e para si mesmo, em conluio secreto com a chefe de gabinete da Casa Branca, Billie (Nana Mensah), e Stuart (Ato Essandoh), assessor direto da embaixadora. O imbróglio no Reino Unido será a prova de fogo, e mediar a tensão entre Inglaterra, Estados Unidos, Irã e outros suspeitos do ataque, vai deixar a protagonista literalmente descabelada.

Os atritos na seara pessoal e política crescem no decorrer dos oito episódios. Conchavos não faltam e o enredo dá uma cutucada no governo inglês através do primeiro-ministro, Nicol Trowbridge (Rory Kinnear), um tipo bufão muito esperto, claramente moldado no controverso ex-premiê Boris Johnson. Kate é uma mulher admirável, resoluta e de inteligência ímpar. Mesmo assim, deixa suas fragilidades à flor da pele quando a coisa pega – a briga física com Hal é comédia pastelão. Entre um respiro e outro, o mundo se complica. O fechamento da primeira temporada é aterrador.

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