Um Alguém Apaixonado

Indicado à Palma de Ouro em Cannes 2012, Um Alguém Apaixonado foi um dos últimos filmes do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, morto em 2016 de câncer, aos 76 anos. O aclamado diretor de Gosto de Cereja faz um cinema peculiar, jamais óbvio e mais uma vez encontra o incomum no comum. Depois de filmar Cópia Fiel na Toscana, com a estrela francesa Juliette Binoche, ele parte rumo a Tóquio, no Japão.

A princípio ouve-se apenas a voz de uma jovem, que parece falar com alguém ao celular enquanto a câmera percorre um bar. Ela discute com um homem e fica claro que mente sobre onde está. Seu nome é Akiko e logo conhecemos seu cafetão, um tipo quase cavalheiro na forma como exige que ela pegue um táxi e vá atender um cliente longe dali. Por que Akiko se divide entre a faculdade de Sociologia e a prostituição não fica claro. No caminho, em uma sequência primorosa, ela escuta as inúmeras mensagens de voz deixadas pela avó que está em Tóquio e queria vê-la. Esse desencontro dá pistas das dificuldades que a moça enfrenta na cidade grande.

Tadashi é o idoso que a recebe e o encontro é quase uma comédia. O que se estabelece nessa trama que dura cerca de 24 horas é um esdrúxulo triângulo amoroso. No dia seguinte, quando Akiko chega à faculdade de carona com Takashi, um rapaz a aborda violentamente. Ele se apresenta como Noriaki, o noivo, e acredita que Tadashi seja avô de Akiko. Há humor e tensão nessa rede de mentiras que não se sabe onde vai dar.

Kiarostami apresenta sutilmente seus personagens, mas o arco dramático está na situação em si, que toma contornos mais graves. Um Alguém Apaixonado não é uma obra pronta. O diretor convida o público a preencher as lacunas por conta própria. Fascinante para alguns, incômodo para outros, mas vale experimentar.

Ficha Técnica

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