O Charlatão

Se não fosse pelo cinema, dificilmente conheceríamos a história do herbalista Jan Mikolášek, famoso por suas curas nada ortodoxas com ervas medicinais. Destaque da última Mostra SP e representante da República Tcheca no Oscar 2021, O Charlatão já entrega no título a polêmica que envolvia a reputação do curandeiro. Quem conta essa história é a aclamada diretora polonesa Agnieszka Holland (Filhos da Guerra), que aos 72 anos está mais ativa do que nunca.  

Nascido na Tchecoslováquia na virada do século 20, Mikolášek era filho de um jardineiro e seguiu a profissão do pai até conhecer uma curandeira, a Sra. Mühlbacher. Ela lhe ensinou não só como buscar ingredientes curativos nas plantas como a fazer diagnósticos pela simples observação em contraluz das amostras de urina dos pacientes. Flashbacks apresentam os primeiros passos de Mikolášek na profissão e seus traumáticos dias como soldado na Primeira Guerra. Quem o interpreta nessa fase é Josef Trojan, filho de Ivan Trojan, que faz o protagonista na idade adulta.

Seus feitos atraíram o povo e as autoridades. Renomado já antes da Segunda Guerra, Mikolášek fez fortuna durante a ocupação nazista e sob o regime comunista. O respaldo do governo, porém, acabou com a morte de seu mais proeminente paciente, o presidente tcheco Antonín Zápotocký, em 1957. É justamente nesse ponto que a cineasta começa O Charlatão, para então retratar a perseguição que ele passa a sofrer de células militares comunistas. Agnieszka abre o escopo ao inserir o suposto romance homossexual entre Mikolášek e seu fiel assistente, Frantisek Palko (Juraj Loj).

A narrativa se bifurca entre o questionamento da legalidade da medicina alternativa e do homossexualismo, considerado crime no país naquela época. A diretora toma o lado de seu biografado ao ressaltar a obsessão dele em ajudar os outros com o dom que acreditava possuir. Também ilumina com delicadeza o caso de amor com Palko, que morava na mansão do patrão embora continuasse casado com uma mulher.

Apesar de claramente romanceada, O Charlatão é uma cinebiografia envolvente de um personagem histórico desconhecido do grande público. O problema é que o enredo não se aprofunda nem na seara política e judicial, nem na amorosa. Agnieszka fez um filme digno, que vale ser assistido, mas que fica no meio do caminho de algo mais grandioso.

Ficha Técnica

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