O Caravaggio Roubado

Há algo de sério, ou pelo menos factual, neste suspense pastelão do cinema italiano dirigido e coescrito por Roberto Andò (As Confissões). O quadro “Natividade com São Francisco e São Lourenço”, um dos mais famosos do grande artista italiano Caravaggio, pintado em 1609, de fato existiu e foi visto pela última vez no oratório de São Lourenço, em Palermo, cidade da região da Sicília, na Itália, de onde foi roubado em 1969. Ainda hoje, cinco décadas depois, o desaparecimento é considerado um dos dez roubos de obra de arte mais importantes e ainda não solucionados.

Ao longo desse período, e inclusive recentemente, houve relatos de membros da máfia sobre o roubo e o destino do quadro, que instigaram uma série de histórias, quase lendas. O Caravaggio Roubado alimenta-se dessas fontes para engendrar um roteiro de boas intenções e uma produção de qualidade, com destaque para a fotografia, direção de arte e figurinos, que evocam uma aura dos anos 1960, jogam com luz e sombra, cores quentes e branco-e-preto, num conjunto equilibrado.

Mas as boas intenções não se refletem na narrativa e diluem-se em subtramas e gêneros concorrentes em uma frustrada proposta de metalinguagem. A trama principal gira em torno de Valeria (Micaela Ramazzotti, de Loucas de Alegria), secretária de uma grande produtora de cinema, que é também a ghost-writer do roteirista mais importante da casa, o bon vivant Alessandro (Alessandro Gassmann, de Os Nossos Meninos). Justo quando fica sem ideias para o aguardado próximo trabalho de Alessandro, Valeria é levada a se encontrar com o misterioso Alberto Rak (Renato Carpentieri), que investiga uma possível negociação entre a máfia e o governo para devolver o famoso quadro roubado ao país.  

Valeria começa a escrever o roteiro com as histórias de Rak e, após alguns capítulos, a produção do filme é aprovada e anunciada. Ato contínuo, começa uma caçada dos mafiosos, infiltrados até no estúdio, pelo verdadeiro autor do roteiro e seu informante, enquanto a tal negociação está em andamento. No vai e vem das tramas, no entra e sai dos personagens, no filme dentro do filme, o suspense fica capenga, apesar da típica e insistente trilha sonora de mistério, substituído por tom mais fanfarrão, até bufão no epílogo infeliz. 

Ficha Técnica

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