Misterio no Mediterrâneo

Há produções que, para além da sua qualidade ou ausência dela, tornam-se filmes-evento, ou seja, ganham destaque por algo significativo que representam na competitiva e internacional indústria do entretenimento. Foi o que ocorreu com Mistério no Mediterrâneo, que no primeiro final de semana teve mais de 30,7 milhões de exibições na Netflix, cerca de 13,3 milhões nos Estados Unidos e 17,4 milhões no resto do mundo. Já é o filme de maior sucesso da distribuidora de streaming em sua curta história.

O filme volta a reunir Adam Sandler e Jennifer Aniston, depois do divertido Esposa de Mentirinha. Ele é um policial de Nova York, que nem consegue passar na prova para investigador. Ela é uma cabelereira verborrágica e fã de livros de suspense. Os dois partem em viagem de aniversário de casamento, e no avião conhecem um milionário (Luke Evans) que os convida para viajar em seu iate pelo Mediterrâneo. A bordo, eles testemunham um homicídio, tornam-se principais suspeitos e precisam descobrir o assassino se quiserem voltar para casa.

O projeto data de antes de 2013, e por ele passaram bons diretores e atores, inclusive Charlize Theron (Casal Improvável), também produtora do filme, junto com Jennifer e Sandler. O papel foi para Jennifer e a produção acabou nas mãos do obscuro diretor Kyle Newacheck (Perda Total), que realizou uma comédia de suspense sem nenhuma qualidade a não ser o compromisso assumido com o pastiche. Tudo é clichê sem nem o benefício das boas intenções. O roteiro é muito mais uma indicação de diálogos e situações, as piadas são toscas e as cenas são rápidas como se para disfarçar o descuido geral.

No elenco e nos personagens, a “internacionalidade” do showbiz está devidamente “representada”: francês, russo, japonês, latino, inglês, africano, indiano, para todos os gostos. Aquele luxo que enche os olhos, como iates, hotéis cinco estrelas, carros conversíveis, caviar, está tudo em cena. Belas cidades europeias, também. Sedução para todo lado, a fórmula da diversão sem qualquer arte. Não tenho certeza se a homenagem à Agatha Christie seria bem-vinda pela grande autora de mistério, mas me surpreendi com a participação especial do veterano Terence Stamp (Priscilla, a Rainha do Deserto). Todos temos que ganhar a vida, afinal.

Ficha Técnica

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