Maya

Todos temos nossos traumas e nossas dificuldades para viver, e esse é um tema caro à diretora Mia Hansen-Løve, vencedora do Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim com O Que Está Por Vir (2016). Aqui, ela espelha a jornada de seu protagonista em um registro singular, belo, intimista, terno. O correspondente de guerra Gabriel (Roman Kolinka, na terceira colaboração com a cineasta) chega a Paris depois de quatro meses como refém de terroristas na Síria.

Resgatados pelo governo francês como heróis, Gabriel e seu colega Frédéric (Alex Descas, de Deixe a Luz do Sol Entrar) são homenageados e levados ao hospital para avaliação física e psicológica. É lá que os hematomas e os relatos revelam as marcas da violência a que foram submetidos. Gabriel decide então viajar para Goa, onde a família tem uma casa e na qual viveu grande parte da infância. Lá, em ritmo de contemplação, mergulhado nas paisagens estonteantes e no modo de vida modesto dos indianos das redondezas, ele se deixa levar. Quando decide visitar o padrinho, dono de um hotel na cidade, conhece Maya (a estreante Aarshi Banerjee), a filha adolescente dele.

Em parceria com a diretora de fotografia Hélène Louvart (de A Vida Invisível), Mia Hansen-Løve também se deixa levar no roteiro, na produção e nas filmagens que, aos poucos, revelam os mergulhos de Gabriel em seu passado e em seu presente, sem urgências, embalado por uma trilha sonora impecável.

Há em Maya referências à guerras e à destruição da tradição agrícola – e cultural – hindu pelo capital imobiliário. Mas o que importa agora a esse jovem jornalista é desacelerar, reencontrar raízes e razões, respeitar o tempo de cicatrização. Com uma atuação admirável de Roman Kolinka, no exato registro do modo blasé de ser dos franceses, a cineasta transforma a viagem interior de Gabriel numa metáfora para todas as “viagens” de reconexão, de reencontro. De volta para casa.

Ficha Técnica