Folhas de Outono

Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, Folhas de Outono é uma comédia romântica, só que bem longe dos moldes hollywoodianos. Porque quem dirige e assina o roteiro é o finlandês Aki Kaurismäki, um autor avesso a arroubos emocionais, à falação e mesmo a muito movimento. Mas como fala seu cinema estático, que encontra a graça em miudezas. 

Sua personagem, Ansa, é estoquista de um mercado em Helsinque. Não gosta de desperdício e sempre que possível burla as regras e doa produtos que seriam descartados. Solteira, vive em uma casinha simples e bem-cuidada. Ela quer mais da vida, não muito, mas um companheiro lhe faria bem - o amigo canino entre em cena no decorrer da história. É com esse espírito que troca olhares tímidos com Holappa (Jussi Vatanen), operário civil, mecânico e o que aparecer pela frente. O encontro, em um bar de karaokê, é o primeiro de uma série desencontrada, com direito a papel com número de telefone voando pelos ares.

O humor em Folhas de Outono vem das sutilezas, de um olhar maroto, de uma situação inusitada, do acaso que prega peça, da típica atuação dos sidekicks, os amigos que contribuem para a relação vingar. Kaurismäki pinta com cores fortes uma Helsinque proletária, habitada por seres solitários e sem muita perspectiva, mas que seguem a rotina e enfrentam intercorrências com jogo de cintura. No caso de Holappa, porém, seu alívio diário vem do álcool e isso pode colocar tudo a perder.

Vencedor do Urso de Prata em Berlim por O Outro Lado da Esperança (2017) e do Grande Prêmio do Júri em Cannes por O Homem Sem Passado (2002), Kaurismäki faz um cinema social sem firulas, conciso, direto no ponto. Folhas de Outono tem menos de 90 minutos de duração, suficientes para o diretor abraçar seus personagens, sempre com delicadeza, e apresentar-lhes desafios capciosos para que o arco dramático seja transformador. O romance dessa vez é o motor da mudança, e o cinema, na forma das cada vez mais rarefeitas salas de rua, age como cupido. Uma beleza de filme.

Ficha Técnica

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